quinta-feira, 25 de julho de 2013

[Lotus Article] Back to Basics

Imagino que um dos critérios para um deck ser competitivo, é ele ter respostas para os principais decks que dominam o formato. Uma construção já começa induzida na lógica de se bater de frente contra aquelas ameaças principais que te causam medo ou respeito.

Isso pode ser óbvio, mas nem sempre é perceptível. É tão natural, que faz parte do inconsciente. O fato de um card jogar muito em um formato e não jogar nada em outro é exatamente isso. A carta é a mesma, mas as ameaças que interagem com ela são diferentes.

A ideia deste artigo é justamente o contrário. Não de se preparar contra as ameaças, simplesmente ignora-as! Como assim?

Bom, partindo do pressuposto que seu deck é competitivo e ele representa preocupações aos seus adversários, presume-se que ele deva ter uma resposta contra você, pelo menos no sideboard (caso contrário não faria sentido esse artigo). Um exemplo mais simples, goblins:
Goblins é um deck composto de criaturas, muitas criaturas. A menos que o seu deck seja um combo muito rápido autowin, você precisa de respostas para criaturas, se não ele vai obter uma vantagem considerável sobre você. Essa declaração é tão intuitiva que chega a ser absurda. Todo deck de certa forma tem resposta para criaturas (remoção). Mesmo que não tenha remoção, ele tem ao menos uma criatura maior que seja pra bater de frente ou qualquer coisa do tipo...

Certo, mas e se o seu deck não tem criaturas? Entendeu onde eu quero chegar? Não?

Uma realidade do Magic é que em qualquer match há aqueles cards que não são tão aproveitáveis assim. Mesmo que no g2 você não sideie nada, tem aquele card mais vanilla.

Pois bem, o seu deck não tem criatura e praticamente todo deck tem resposta contra criaturas. Por raciocínio lógico, contra você, esses decks tem cartas inúteis, você inutilizou elas com o seu deck. Porque o deck deles é ruim? Não, o deck deles é altamente competitivo, mas você tirou proveito de uma realidade ignorando-a.

Esse é um exemplo básico para pegar o espírito do raciocínio.

Essa situação de se tirar proveito pode ser vista em qualquer aspecto mínimo, você só precisa enxergar o que é evidente e tirá-lo de cena.

Exemplos numéricos agora:

Houve um tempo em que 
Spell Snare era figura obrigatória em todo deck com azul. A curva 2 era presença certa em todo deck. Era o tempo do famoso "Splash verde pra Tarmogoyf". Spell Snare era, antes de tudo "Anule o Goyf alvo" e outros brindes.
Pois bem, no Magic tudo é cíclico, inclusive num formato eternal como o Legacy. O que os caras que perceberam isso começaram a fazer: passaram a tirar a curva 2 do baralho ou reduzir ao máximo. Se de lei eu pegasse um deck azul pra jogar contra, eu poderia dizer com toda certeza que quatro das principais respostas do deck dele são inúteis. A partir daí, a curva geral começou a sofrer uma flexibilizada, tendendo aos outros custos.

Algo parecido ocorreu com Mental Misstep, mas esse fugiu do controle, ao ponto de saturar o formato e merecer ban quando você chegava a ver até um monored burn usando quatro disso de main. Ou então Abrupt Decay. Em menor escala, claro, mas cartas com quatro de custo, passaram a ser vistas com bons olhos por conta dessa condição.
A partir dessa realidade, uma carta com quatro de custo, além de todos os seus efeitos ganha: "Não pode ser alvo de Abrupt Decay".

Mudando de foco, então. A alegria e tristeza em muitos sentidos desse formato: Dual Lands. Generalizando, terrenos não básicos. Qual é o regulador natural das Dual Lands? Wasteland. Se não fosse por ela, o formato seria absurdamente caótico e muito mais rápido.
Reid Duke, por exemplo, percebeu isso e foi pela contramão. Nos primórdios do UW Miracle, ele fez um deck com oito terrenos básicos. Isso pro Legacy é exagerado, uma vez que os decks normais usam na maioria das vezes, um terreno básico de cada para puxar com fetch land (com medo de levar WasteTroll).
O cara praticamente não tinha nonbasics. E se vinham, ele não precisava usar, era possível você ver na mesa dele com facilidade de cinco à seis terrenos básicos e o adversário com aquela Wasteland triste em pé (às vezes duas haha).
Wasteland nesse caso, deixa de ser um kamikazi e passa a se tornar então um mero mortal, um terreno que simplesmente adiciona um mana incolor, e nada mais.
Não estou falando pra você fazer um deck louco bitolado nesses princípios que não receba resposta de nada e ao mesmo tempo também não faz. Tudo que é forte já nasce com um alvo na cabeça. Se você joga com algo que não tem esse tipo de alvo, ou você é um ultra visionário que tirou lá do fundo do baú aquela carta que ninguém esperava e trollou o field por completo (às vezes acontece) ou a carta é ruim mesmo. Mas logo em seguida você pode ter certeza que na próxima semana todo mundo vai ter resposta contra você…

... aí você volta sem aquela carta, yé yé!

A proposta é você reduzir a sua matriz pra evitar “N” respostas, mas tudo isso dentro da competitividade. Não estou falando pra criar um deck novo, dentro do seu (mesmo sendo tier1) é possível surpreender pela falta e não pelo excesso. Aquela carta marota que ninguém esperava dentro de uma lista, o cara chama de "tecnologia", você pode fazer o oposto e não usar algo que era esperado.

"É pra eu tirar as Lilianas do jund então?". Provavelmente não. Não se deve abster das chaves do deck. Pode até dar certo, pra isso existe teste. Mas falo mais dos acessórios. Se você tirar o Punishing Fire, por exemplo e colocar mais bichos, você pode surpreender com uma lista mais agressiva, se o field pedir.

Não se prenda simplesmente a listas fechadas. "Ah, aquela ganhou um champz de 300 cabeças." Você pega a lista 100% fiel e nem sabe o motivo de cada carta ou como é o field de lá em relação ao seu. Também não é só pra pegar a lista e cegamente mudar segundo seu perfil de jogador. "Hm, lista bacana, mas vou tirar esse card aqui porque não gosto mesmo". Pegue a sua lista mesmo e faça o exercício.

Já cansei de ver listas budgets surpreenderem em campeonatos. O cara queria fazer um jund, mas ainda não tinha fechado as duais vermelhas. Foi de BG com 4 
Strangleroot Geist. Ninguém esperava aquela coisa ali, isso é T2! O cara saiu na agressividade e se deu bem. Eles tinham resposta pra isso? Lógico, mas não tinha resposta para o deck todo. Mas isso então não é falta, é excesso! Sim, mas é a falta do óbvio. Porque o óbvio pede resposta.
A necessidade é a mãe da invenção. Quem não tem cão, caça com gato. Menos é mais. Players que não tem recursos para comprar o que é bom arriscam porque é isso ou não jogar. Ao passo que aqueles que dispõem de uma condição financeira boa, se cristalizam em conceitos definidos. Mesmo mudando a lista várias vezes, não mudam de fato. Evoluir não necessariamente é incrementar.
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Luis Iglezias

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