segunda-feira, 2 de setembro de 2013

[Casos casuais] Apresentação: O que é o Casual?

Apresentação
Olá jogadores e colecionadores, venho hoje apresentar-vos um nova seção na Blacker Lotus, direto do blog Casos Casuais, Blitkun & MandarK falam um pouco mais do formato casual.

Introdução
Magic Casual. O que é "casual"? Quem inventou isso? Na prática, quem são as pessoas que jogam isso?
Somos nós. Nós, que abrimos um booster e vemos as Comuns antes das Incomuns e da Rara. Nós, que rimos do flavor text de Hex e ansiamos pelo dia no qual a usaremos em um deck e a jogaremos enquanto declamamos o flavor.
Nós, que construímos um deck com as cartas que temos, não com as que nos falam para ter.
Heróis da mesa de cozinha! Jogadores casuais!

Ok, isso foi um pouco forçado...

Inaugurando a seção "Casos Casuais", vou expor uma questão importantíssima para nós: a definição de Magic Casual e como diferenciar "Casual" de "Budget".

Quando se fala de "formato", temos regras específicas e definidas, que permitem que qualquer jogador com acesso a qualquer lista de deck e qualquer database de cartas, consiga entender a que formato esse deck pertence (ou pelo menos supor). De bater o olho e ver coisas como Force of Will, Jace Mind Sculptor, Sensei's Divining Top; já sabemos que se tratar de Legacy (Ou Vintage. Droga, esse dá pra confundir). Bom, pelo menos Modern não é. Achando coisas como Tarmogoyf, mas usando Serum Visions enquanto um Preordain ou Ponder seriam muito melhores, sabemos que se trata de Modern. Olhando uma lista que só tem cartas comuns, Pauper. Parece Modern mas usa cartas banidas? Extended (ou não, ninguém mais joga isso!). Só das edições mais recentes? Certamente Standard.

Mas e o Casual, cadê?

Bem, pode-se dizer que Casual é TUDO, e NADA. Ele é "tudo" porque mesmo uma lista com umas Force of Will, uma Volcanic Island e uns Daze pode ser Casual. Assim como uma lista tecnicamente Standard pode se revelar, ao perguntar ao seu dono, uma lista "Casual".
Casual também é "nada", no sentido de que não existe como um formato. Se você for caçar no site da Wizards, nas Rules, não existe nenhuma menção a "Casual Format". Nem existem "campeonatos casuais" ou algo do tipo.

"Então, Casual não existe, ele é na verdade, um deck sub-competitivo. Basta seu dono adquirir os recursos e cartas corretas, que se torna um deck adequado a qualquer um dos formatos."

Discordo. Essa perspectiva de "correto" e "adequado" distorce os fatos. Embora sim, a falta de recursos financeiros seja um fator de grande importância para que um jogador não invista num Vintage, Legacy, Modern, Extended ou Standard, nada garante que ele o fará. Um jogador só se insere num formato se assim o quiser - meio óbvio, mas indica que não é "regra". Casual, nesse sentido, seria o limbo, um espaço longe da competição no qual os decks anseiam pela oportunidade de sair e conquistar seu espaço entre Snapcasters, Goyfs e Bobs.
"Então você diz que Casual é a mesma coisa que Budget!?"

Novamente, discordo. "Budget" é uma subcategoria a todos os formatos. "Budget Legacy", "Budget Modern" e até "Budget Pauper" (curioso, mas o Pauper subiu o preço de muitas cartas e fez muitas sumirem de pastas também), o que implica que serão usadas as regras de cada formato, suas listas de banidas e restrições de construção de deck - mas tudo a um custo reduzido. Essa solução é fantástica e existem muitos adeptos dela. O intuito é manter um nível competitivo, fazer listas eficientes e otimizar recursos, enquanto o preço dos decks é significativamente menor que nas listas competitivas não-budget.

"Pra quê serve o Casual então?"

O Casual abrange tudo que não foi absorvido pela vontade de competição. Não é um formato, é uma mentalidade. É um agregado de condições que faz com que determinados jogadores se reúnam harmoniosamente e joguem. É caracterizado por pessoas que valorizam mais as "jogadas bizarras", as piadas, comentários entre partidas e em geral, diversão, do que o objetivo do jogo em si.
Gente que gosta do Magic pelo Magic, pelo Flavor, pelo Background, pela Mecânica e não pela vitória.

Vencer é legal? Claro que é! É praticamente uma massagem tailandesa no ego! Imagina então ganhar de um deck legal, com outro deck legal que você fez a lista do zero e ainda usando só suas cartas e mecânicas favoritas?
NEEEEEEEEEEEEEEEEEEEERDGASM!

Diferente do Budget, que implica em restringir mais as condições de construção de deck, o Casual expande esse universo de possibilidades ao jogador. O Casual, por não ter regras específicas, pode se apoiar em algum formato, como o
 Casual Legacy, Casual Modern, para servir de referência. Isso o aproxima do Budget, embora a diferença crucial seja o modo como a competição é encarada.

É disso que o Casual gosta - é para isso que se joga.

Seriedade, Regras e Organização
Um grande desafio para o jogador casual é escolher se ele vai "se importar" com formatos. Existem diversas vantagens e desvantagens se tratando de uma escolha complexa. As pessoas, por vezes, voltam nesse ponto e mudam de ideia no que diz respeito a formatos - geralmente por pressão de amigos.

Vantagens em adotar um formato
- Fica fácil explicar seu deck. "É um Modern Goblins casual, bem tranquilo"; "One with Nothing Combo Legacy Casual", etc. Isso auxilia na hora de jogar com gente nova, pela primeira vez. É especialmente relevante para quem frequenta lojas - você se passa por um jogador de Budget.
- Restrições geram desafios em deckbuilding. Esse elemento é particularmente verdadeiro para Modern, Extended e Standard.
- Caaaaaaso mude de idéia, e queira jogar competitivo, é "só" uma questão de ganhar na loteria e queimar dinheiro no deck - isso já te "nivela".

Desvantagens em adotar um formato:
- Se for tão importante assim, você provavelmente não vai sossegar até seus amigos adotarem o formato também.
- Dependendo do seu pool de cartas e do formato escolhido, pode significar impossibilidade de usar MUITAS cartas. Isso entristece muita gente. E cartas.
- O nível geral de criatividade PODE cair. Não é regra, mas deve ser discutido como uma desvantagem, pois ao adotar um formato, fica (mais) viável pesquisar listas competitivas do formato, inevitavelmente "misturando os dois mundos". Às vezes ocorre no grupo um fenômeno de "competitivo sub-prime", com decks semi-budget/casuais que emulam os competitivos e até flutuam com o metagame interno... Isso pode ser divertido e se converter em uma vantagem, mas depende muito do grupo. De todo modo, a perda de criatividade média é uma desvantagem.
- Some o espírito de "construa o que quiser e seja feliz com isso".

Muitos jogadores casuais passam anos e anos sem definir um formato - eu sou do outro grupo.

Participo de um grupo de amigos que joga Magic há anos - alguns deles participaram de PTQs, FNMs e outras siglas por aí na época do Old Extended - um ou outro Legacy. Listas razoavelmente competitivas (as consideras fortes e eficientes), acabaram mudando para Legacy e nunca mais se falou em PTQ ou campeonato. Passamos a ficar brincando com vários decks - como muitos deles tinham pools muito boas (bastante fetch, shock e filter lands, um Jund fechado dos tempos de Alara, um Fadas competitivo, 2 Merfolk, Kithkin, Slivers, Stuffy Doll), o nível ficou por aí mesmo. Mesmo hoje, a gente ainda acompanha edições, tenta participar de 1 pré-release por ano, comprar boosters e se divertir.
Temos Jaces, Force of Will, Dazes, Old Fetchs, Old Duals (algumas)... Mas jogamos casual pelo espírito da coisa mesmo. (não, nenhum Goyf, Tabernáculo ou Show and Tell).
Nossas listas são "Legacy" pelo critério do pool de cartas, embora estejamos montando algumas "Modern", mas não têm nada a ver com competição. Ok, exceto o cara que tem Jaces, FoW, Daze, Stifle e Volcanic Island. Esse joga, se quiser. Mas o dono não quer!
Importante informar que essas cartas não estão no mesmo deck, nem estão à venda e o cara é tão gente fina que não coloca tudo num deck só, para não virar esculhambação. Ele considera que o desequilíbrio que esse deck traria ao ambiente seria extremamente nocivo, ao ponto de nem ele querer jogar com o dito deck.
Esse cara é co-autor do blog Casos Casuais e sem o dono do blog perceber, editou o arquivo com o texto e deixou agradecimentos.  :)

Esse é o tipo de comportamento que se enquadra nas chamadas "Regras da Casa", ou "House Rules". É extremamente comum em grupos de jogadores casuais que sejam elencadas algumas regras internas. Elas têm o objetivo de deixar o jogo mais dinâmico e/ou divertido, eliminar preocupações para deixá-lo mais leve ou quase sempre, inibir comportamentos nocivos à integridade do grupo. É bem mais uma questão interna - cartas banidas próprias, restrição do tipo de interação, etc...
Alguns grupos chegam até a dar "downgrade" em algumas regras do Magic - uma amiga minha contou que o irmão dela só joga se for com regra antiga (mana burn, cara!), por discordar de algumas atualizações. Bom, eu não apoio ele particularmente, mas se ele achar gente que concorda, podem jogar juntos e se divertir potencialmente mais do que se "forçar" a engolir as regras novas.

Darei alguns exemplos de House Rules que adotamos em meu grupo:

1- "Mulligan Free dos Bróders"

Essa regra foi facilmente implementada. Ninguém gosta de Mulligan, e deck testing contra gente zicada não funciona - "Sou brasileiro e não mulligo nunca" - era algo constantemente dito e ouvido por aqui... Mesmo quando o deck DEVERIA mulligar, começar com uma carta a menos na mão é brochante. Daí incluímos essa regra:
"Quando estiveres jogando com um bróder, podes requerir um Mulligan Free dos Bróders. Caso seja concedido, tens direito a 1 (um) Free Mulligan na partida, independente do formato de jogo."
"Quando estiveres jogando com um bróder e recebeis requisição para conceder um Mulligan Free dos Bróders a tal oponente bróder e também estiveres em condição de requisitar o mesmo recurso, podes ao conceder-lhe a autorização, oferecer-lhe um High Five. Caso o bróder complete o High Five, deveis proclamar 'YIS!', completando o processo de Mulligan Free dos Bróders e renovando seu uso."

(basicamente Free Mulligan, se os dois pedirem dá Refresh, contanto que haja o High-Five e o "YIS")

A idéia era sumir com as starting hands zicadas e aumentar marginalmente a consistência dos decks. A gente brinca como pode e todos saem felizes e saltitantes, só que sem pular.

2- "Princípio da Jogada Didática"

Não-oficial. Também, como dá pra ver pelo nome, não é uma regra - é um princípio. A gente se dá o direito de comentar jogadas, reorganizar o tipo de mana gerado para não zicar, corrigir untap/trigger esquecido da upkeep, voltar em decisões impensadas e até dar sugestões de eficiência ao oponente - sem revelar a mão, claro. A idéia é aprender, e tentar identificar erros mais rapidamente. Essa "regra" é muito importante, pois estamos constantemente com decks experimentais ou combos bizarros os quais não temos ainda total domínio das interações.
Isso inclui, ao final do jogo, regredir alguns turnos para testar um cenário hipotético, às vezes. Depende dos jogadores.
Espectadores também podem dar dicas, se um dos jogadores pedir - mas sem spoiler.

3- "Apelou, perdeu."

Regra comum, nem tem muito o que explicar. Muitos grupos têm algo similar a isso, que possui o intuito de cortar decks, cartas ou combos que desequilibrem demais o ambiente. É uma regra de aplicação delicada, que pode acabar dando briga - mas quando bem gerenciada traz um excelente retorno em termos de satisfação do grupo com o ambiente. Ao restringir interações absurdas (por exemplo, Painter's Servant/Grindstone, Orim's Chant/Isochron Scepter) os jogos tendem a perder o efeito de monopólio de metagame. Pelo menos aqui, não se pede que o deck seja desmontado ou algo do tipo - as pessoas apenas expressam que o deck é forte demais para o ambiente, e sugerem que o dono dele use outro deck para jogar com elas. Esses "decks apelões" continuam por aí, e é legal quando se coloca uns 2 deles um contra o outro. Vira quase uma "Exhibition Match".

Entre essas e outras regras, cada grupo procura deixar o jogo mais divertido, atraente ou condizente com suas necessidades - e esse é o charme do Casual. O Magic vira algo... Único, de grupo para grupo. Daí vão os apelidos de cartas, as músicas temas, os comentários de jogadas à la Galvão Bueno, mini campeonatos valendo um copão de Ovomaltine e gatos derrubando e virando cartas na mesa ("Oh-ho-ho Virou tá virado!" - risos).

No mais, nos despedimos por hoje. Espero que isso tenha sido um pouco esclarecedor sobre nossa visão do Magic Casual. Devo ressaltar que muito desse texto contém as minhas impressões, e pode ser diferente no grupo vizinho - eu não sei. Essas impressões são a soma da minha experiência pessoal com o que ouço a respeito de outros grupos, traçando elementos que entendi serem comuns aos grupos. A amostra, infelizmente, foi pequena, então é estatisticamente pouco para considerar os elementos intrínsecos aos grupos casuais. No entanto, pelo que entendo de pessoas - e que aprendi vendendo Magic em uma loja, para clientes de todas as idades e estilos - creio que seja algo próximo disso. Caso necessário posso abordar o assunto novamente num futuro próximo, se o(s) leitor(es) desejar(em).

A ideia do Blog a partir de agora é mostrar algumas de nossas decklists, balanceadas entre si, até mesmo usando cartas fortes, mas com tema totalmente causal. Demonstar a ideia dos "Decks com cards top sub-aproveitados" feitos para se divertir jogando. Dar risada de interações engraçadas, enquando ouvimos metal e discutimos política/Curintcha, e assim, por anos mantemos nosso grupo unido, com muito Magic!

Até a próxima, com direito a deck com música tema!
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Blitkun & MandarK

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